12 de fevereiro de 2008

Voltei ... Com mais de Malta - Sequência - Day 3





Após um duro amanhecer, causado por uma noite em claro, um banho de àgua fria para acordar, e o habitual pequeno almoço rasca do St Patrick´s, tomamos o curto caminho do Centro de Mergulho, onde nos espera uma boa noticia: íamos ver os Naufrágios de Gozo.
Tudo animado com a boa nova, lá partimos em direcção a XATT L - AHMAR, local onde foram propositadamente afundados três navios para a indústria do mergulho. Ao contrário dos locais anteriores, este apresenta algumas condições para equiparmos, dispondo de parque de estacionamento e algumas mesas. O acesso é que continua não ser facilitado, embora também aqui a dificuldade me pareça muito menor. O primeiro mergulho irá ser no MV KARWELA, um navio de passageiros que passeava turistas em Comino até 2002, com 51 metros de cumprimento e 8,50 metros de largura. Foi deliberadamente afundado em Agosto de 2006, para servir como recife artificial. Repousa no fundo de areia, a 39 metros de profundidade, e a cerca de 50 metros da costa.
O que se pode desde logo dizer deste spot, é que se trata de um GRANDE MERGULHO e FABULOSO mergulho. Logo que caímos à agua, e começamos a afundar, dirigindo-nos em direcção ao naufrágio, detecta-se a silhueta do navio, tal a visibilidade das àguas. E o que chama desde logo a atenção, acaba por não ser o navio, mas a cor dos grafittis de um inesperado VW Carocha estacionado no deck do naufrágio. É uma surpresa visual que marca desde logo a excelência deste mergulho. Tudo isto quando ainda estamos a meio caminho. Descemos até à enorme hélice, a 42 metros de profundidade, damos uma espreitadela rápida ao cumprimento do navio e à sua imponente imagem pousado no fundo. Subimos lentamente até ao convés, passamos pelo carocha, entramos na sala das máquinas, passamos para o interior das cabines de passageiros, onde tiramos umas fotos à janela, e subimos barbatana ante barbatana as escadas interiores de acesso ao deck superior. Depois, gerindo o tempo passeamos por cima do Karwela, mirando sempre a original imagem do carocha. Como diria o meu dive buddy “ESPÉCTAAAAAAAAAAAAAAAAACULO”.
Como ainda resta muito ar, vamos subindo muito lentamente, e explorando o recife, que alberga alguma vida. Definitivamente este foi um belíssimo mergulho.
Quando já todos babávamos por um segundo mergulho no local, para repetir o Karwela, ou para visitar outro naufrágio, eis que o Urs, defensivamente, nos informa que vamos para outro local.
Sem percebermos muito bem o porquê de irmos para outro local, lá nos desequipámos e fomos descansar para uma belíssima baía de àguas lúcidas e transparentes ,muito bem frequentada. Houve até quem tivesse oportunidade de mitigar as saudades dos animais de estimação, ao ver um cachorrinho que por ali deambulava muito bem acompanhado.
Depois da nossa refeição “fast and light food”, seguimos em direcção à Costa Sul de Gozo, mais precisamente para Mgarr Ix - Xini, com destino final aos TA´CENC CLIFFS.
A chegada ao local não augura nada de bom. Estacionamos no cimo de um promontório, quase metendo medo só de olhar para baixo. Recordo que o nosso “Drive Master”, naquele seu ar de puto reguila inocente, perguntar ao Urs, meio a brincar, meio a sério, se lhe tínhamos feito algum mal. Acho que o Helvético não percebeu a chalaça. Ou então fez-se de desentendido e gozou connosco à brava.
Porque ninguém conseguia sequer vislumbrar onde era a entrada para o mergulho, decidiu-se ir fazer o reconhecimento do caminho de acesso. E o reconhecimento, sem equipamento, foi duro. Nada mais, nada menos que uma descida de uma ligeira rampa, e uma descida a pique de 103 escadas. O pensamento geral foi que se o Guia nos levava para ali, com toda aquela dificuldade de acesso, é porque o mergulho seria fabuloso. O cenário exterior ajudava a formar tal ideia, pois era de impressionante beleza paisagística. Um pouco incrédulos pela violência física do acesso, mas crentes no fabuloso azul transparente do mar, lá subimos as 103 escadas e rampa, para nos equiparmos. Colete, lastro, garrafa e demais equipamento às costas e nos braços, lá iniciamos a via sacra até ao fundo do penhasco.. Quando chegámos ao local de entrada na água, nem sabíamos de que terra éramos. Mas enfim, vamos ao mergulho.
O mergulho desenrola-se ao longo de uma parede vertical, com algumas plataformas submarinas que permitem o acesso ao mergulhador, um de cada vez, com a nuance de em algumas dessa cavidades a navegação se fazer muito perto do tecto, pelo que a flutuabilidade é um pouco complicada. A profundidade do mergulho vai de quotas dos 35 aos 2 metros, sendo que nos mantemos entre os 23 e a superfície. A vida marinha continua escassa. A única coisa que se avista é uma quantidade anormal de algas, vermes de fogo com problemas de obesidade, uma lagosta, e uns ocasionais peixe papagaio. Na parte final do mergulho, que coincide com a entrada na parte abrigada do desfiladeiro, a navegação faz-se quase à superficie, visitando umas cavidades muito estreitas, num sobe e desce que nos dá cabo da flutuabilidade. Vale-nos o facto de haver muitos calhaus à mão de semear, que nos permite equilibrar e terminar o mergulho de forma satisfatória.
Nada satisfatória é a perspectiva bem real de ter que subir as 103 escadas de regresso à camioneta. Um sacrifício desnecessário que não compensa o mergulho efectuado. Não sei se as condições climatéricas e de visibilidade seriam as melhores, mas este foi sem sombra de qualquer dúvida o mergulho menos conseguido em Malta. Uma violência desnecessária, que nem a magnificência dos Cliffs de Gozo justifica. A decepção, desilusão e revolta é ainda maior pelo facto de todos termos preferido mergulhar num dos naufrágios, não compreendendo o motivo para tal recusa e escolha deste spot.
Visivelmente agastados, e cansados, mas nunca mal dispostos, regressamos ao Hotel, efectuando uma ligeira paragem num outro promontório para apreciar os impressionantes Penhascos de Gozo.
A azia do grupo era tal, que fizemos um ultimato ao Urs, ou nos levava no dia seguinte ao Rozi Wreck, ou então nada feito, não íamos mergulhar de barco. Para relaxar de tanto cansaço, nada melhor que uma deslocação à capital de Gozo, Victória. A brilhante ideia das senhoras, era passearmos por Victória, visitar os seus belos monumentos, designadamente a imponente catedral e a Citadela, e arranjar um bom restaurante para jantar. Ora se o primeiro objectivo foi plenamente conseguido, porque visitamos ambos os locais, o segundo e principal objectivo superou todas as expectativas, defraudando-as. Com efeito, após descermos da Citadela, iniciamos uma incessante busca por um bom restaurante. Está bem um restaurante. Ok, uma casa de pasto. Pronto, pronto, uma tasca também serve. Não se fala mais nisso, uma taverna também serve. As horas passavam, e infelizmente nada. Decidimos então o óbvio, regressar a Xlendi, que lá pelo menos há uma série de restaurantes, e afinal até se come bem. Problema seguinte, arranjar um táxi. Procura e mais procura e nada. A coisa não está a correr nada bem. Há uns artistas que se lembram de uma ideia brilhante, regressar a pé a Xlendi, são só cerca de dez Km. Foi então que se fez luz, ao olhar para um cartaz publicitário salvador, que continha duas letrinhas mágicas: Mac Donalds. Estava achado o nosso restaurante de primeira.
Saciada a fome, regresso a Xlendi. Entretanto são horas do “Vitinho” atacar.
A boa noticia do dia é que descobri a fórmula para adormecer rápido:
FDR = Subir/descer 103 escadas x 4 + 2 mergulhos + 1 cerveja + 1 Xanax = 7 horas de sono