13 de fevereiro de 2008

Rozi Wreck e Comino Caves - MALTA





Para hoje, e com os agradecimentos sinceros do nosso bem estar físico, estava prevista uma expedição de barco, com dois mergulhos: um em Malta e outro em Comino.
Após o pequeno-almoço, reunião no centro de mergulho para garantirmos a ida ao Rozi Wreck, pois que parecia haver alguma má vontade para nos levar a esse local. Acertados os locais de mergulho – Rozi Wreck e Comino Caves - preparamos o equipamento de mergulho, e somos transportados até ao Cais de Gozo, onde nos esperava o Capitão Tony - uma espécie de capitão Iglo, mas de aspecto muito sebáceo -, com o seu barco Neptune. Após algumas dúvidas, foi bom saber que o nosso destino era mesmo o Rozi Wreck.
Nesta ocasião ficou mais uma vez presente a forma de ser de Portugueses e Alemães. Enquanto nós quase pedimos por favor para ir ao Rozi, existindo muita retracção em tomar uma posição de força, um grupo de alemães, que supostamente iria connosco mergulhar, chegou, e de nariz empinado informou logo que se recusava a embarcar, por entenderem que era muita gente no mesmo barco, não existindo conforto e condições de segurança para tanta gente. Recusaram-se a embarcar. Mais tarde, para nosso espanto, vemos os referidos alemães numa outra embarcação. Toma e embrulha, que é para aprender. Claro que os alemães acabaram por nos fazer um grande favor, pois ficamos com o barco só para nós, e lá conseguimos ir aos locais que desejávamos.
Quanto ao mergulho, o Tugboat Rozi, é um naufrágio que se localiza na ilha de Malta, mais precisamente em Cirkewwa Point, encontrando-se a uma profundidade de 36m.
O Rozi, como é carinhosamente conhecido, foi afundado em 1992 como atracção subaquática para turistas de barcos “fundo de vidro“, depois de 20 anos ao serviço como rebocador. Tem 40 metros de cumprimento. Encontra-se a cerca de 150 metros de distância da costa, e a menor distância de um recife. No local de desembarque existia alguma corrente de superfície, pelo que após o salto para àgua, nadamos rapidamente para uma zona abrigada, onde após reunião do grupo descemos. Ao fim de ¾ metros, avistamos o Rozi ao fundo.
O Rozi descansa intacto num fundo de areia, com a popa protegida pelo recife, como se se tratasse de um anfiteatro onde ele se encontra exposto. Parece que foi ali cuidadosamente colocado, e o seu aspecto é o de um barco que foi limpo para ali assentar. A vida que o rodeia é escassa, o que contribui para o aspecto de um navio fantasma.
Chegados ao nosso objectivo, começamos a explorar o fundo do navio, subindo ligeiramente para penetrarmos o seu interior, o que é facilitado pelo facto de lhe terem sido retiradas todas as portas e janelas. Entro no WC, onde a sanita está perfeitamente intacta, mas não me atrevo a sentar, quer porque não sinto necessidades fisiológicas, quer porque o Urs avisou que no seu interior costuma residir uma moreia, pelo que pelo sim, pelo não era melhor não nos sentarmos, recomendação que segui à risca, não fosse a moreia sentir-se atraída, e excitar-se. No convés, explorámos a casa das máquinas, e a ponte de comando, penetrando no seu interior, e alinhando à entrada para uma fotografia à “El Comandante”. Sempre a subir, por causa do famigerado “No Dec Time”, e porque o tempo voa quando se faz algo que se gosta, paramos no mastro do Rozi, lançando-lhe um último olhar e admiro os pequenos peixes que por aí pululam, visionando toda a estrutura do barco.
Dada a profundidade a que se encontra o navio, que nos limita consideravelmente o tempo de visita, e porque todos temos ar mais que suficiente, deixamos o Rozi e partimos em direcção ao recife que se encontra nas imediações, e que dá pelo nome de Marfa Point (The Madonna), onde existirá uma estátua da Madonna (Nossa Senhora) numa pequena cavidade, a cerca de 18 metros de profundidade. Infelizmente, por desconhecimento e falha de planeamento, não demos com a gruta que devia estar ali mesmo à nossa frente. Efeitos do Azoto …
As paredes do recife que explorámos, assim como as cavidades e túneis que permitem a entrada de mergulhadores, estão cheias de coral de diversas cores, e muita vegetação subaquática. Entramos numa dessas pequenas cavidades, e depois de sairmos andamos ali à volta da parede, contornando-a. Estivemos a poucos metros da famosa “Madonna”, mas isso seria algo que só mais tarde viríamos a descobrir, quando compramos o livro de mergulho, e constatamos o trajecto efectuado. Foi pena. Apesar disso, foi um belíssimo mergulho, e o Rozi só por si valeu a deslocação.
De regresso ao barco, e depois de desequipados, seguimos em direcção a COMINO, a ilha mais pequena do arquipélago Maltês, praticamente inabitada, passando pela famosa Lagoa Azul, onde impera a côr Azul turquesa da àgua.
Seguimos para uma pequena baía, de características semelhantes à Lagoa Azul, mas menos concorrida por barcos de turismo, para fazermos o intervalo de superfície, tomar um banho no mediterrâneo, e almoçarmos a salada de atum que o capitão Tony nos havia preparado. Como a fome apertava, todos fizemos uso da sabedoria popular portuguesa que diz que “o que não mata engorda”, ignorando deliberadamente se o Capitão tinha lavado ou não as mãos para fazer a salada. Talvez por isso tenha sabido tão bem, a ponto de haver quem quisesse repetir.
Depois do almoço, e tempo para uma breve sesta no deck do barco, zarpamos em direcção ao nosso próximo destino de mergulho, as Santa Marija Cave ou COMINO CAVES, como também são conhecidas.
O local de mergulho situa-se numa espectacular paisagem rochosa. É mais um sítio de beleza invulgar, no meio do Mediterrâneo, com uma àgua translúcida de nos fazer sentir que faz sentido a nossa paixão pelo mar. O azul deste mar vai ser uma recordação eterna, de deixar aflorar a típica saudade portuguesa, sempre que o recordarmos.
No local de mergulho, existem muitas formações rochosas com grutas à vista, e até um canal por onde passa um enorme barco cheio de turistas. O local onde decorre o mergulho - Ghemieri - é resguardado, e pela primeira vez, é possível avistar desde logo muito peixe, o que é uma surpresa. O Urs passa-me para a mão três ou quatro pedaços de pão de forma, que eu depois de afundar vou dando às centenas de peixes que se aproximam. Num àpice, estou literalmente rodeado de centenas de sargos e outros pequenos peixes, que se alimentam do pão que vou esmagando e largando em pequenas quantidades. Um autêntico festim para os intervenientes, eu, os peixes e os fotógrafos, se bem que eu me tenha sentido o mais privilegiado de todos por ser a atenção daquela miríade de peixes. É certo que com o expediente do pão, mas ainda assim uma imagem espectacular que vou guardar no meu disco duro da memória, entre as muitas e inesquecíveis que o mergulho já me proporcionou.
Quando estamos todos no fundo, seguimos para a exploração das cavernas, sendo desde logo possível vislumbrar as quatro enormes grutas ao longo da pedra.
Primeiro passamos por um arco, e depois entra-se numa caverna com uma grande entrada, que se prolonga por um caminho de mais de cinquenta metros, até uma abertura que tem uma ligação com outra caverna. Na junção das duas cavernas, há uma abertura no alto, a céu aberto, que permite a entrada de luz e dá um efeito espectacular. O mergulho decorre de gruta em gruta, e sempre que saímos duma, lá temos o magnífico e brilhante Azul Mediterrânico à nossa espera. É um Azul inexplicável.
Pela formação geológica da pedra, nalguns locais a luz é refreada pela sombra provocada pela própria pedra, havendo como que um efeito de refracção entre a àgua e a pedra. Os tectos das grutas estão cobertos de corais moles e esponjas. A profundidade máxima é de 22 metros, mas quase todo o mergulho decorre na quota dos 10/15 metros.
Este é sem dúvida um mergulho muito bom, que vale a pena fazer. De grande beleza paisagística, e daqueles mergulhos em que se desfruta plenamente de principio ao fim. É um mergulho de puro prazer, como deve ser o mergulho recreativo.
Findo o mergulho, regressamos a Gozo, e ao Hotel. A rotina é a de sempre, banho, ligeiro descanso e jantar num restaurante mesmo em frente à gruta da Baía de Xlendi. O jantar foi bom, desta vez acompanhado por uma revelação de nome Dolcino. E de tão bom que era, abateram-se três unidades de 0,75 dl. Mais ou menos animados, e um pouco menos cansados que nos dias anteriores, lá seguimos direitinhos para os quartos, para descansar, pois que amanhã regressavam os trabalhos forçados dos “Shore Dives”.