DAY SIX - 7 de Junho
Após uma noite mais ou menos bem dormida, coisa rara nesta estadia, e com ligeiro sabor a vingança ao olhar para o duro amanhecer e cara ensonada do meu Buddy Room, que quase me fulminou com o lhar, partimos para aquele que por circunstâncias dispares estava convencionado como o ultimo dia de mergulho em Malta. Todos pensávamos ir aos naufrágios, mas segundo o “Labios de Urso” (Lipstick) o vento não estava de feição, pelo que logo se combinou os mergulhos para a costa Norte, com a promessa que iriam ser dois excelentes mergulhos. Como mergulhar é o que todos gostamos de fazer, combinou-se desde logo um terceiro mergulho do dia, mas a efectuar por barco a um spot chamado Crocrodile Rock.
Após viagem de meia hora na nossa “camineta”, por caminhos mais ou menos sinuosos, chegamos ao local do primeiro mergulho, denominado Billingshurst Cave. Quando lá chegamos voltou a sensação de incredulidade face ao local de acesso ao mergulho, efectuado através de uma pedra escarpada, com inclinação descendente, e um salto de quatro metros para a àgua. Seria mais um mergulho próprio para exercícios dos fuzileiros. Depois de explicado o mergulho, montado o escafandro lá fomos nós para a àgua. E, mais uma vez, com a ajuda e boa disposição de todos lá se conseguiu entrar na àgua, de forma mais ou menos artística. E o acesso era tão fácil que deu para o nosso M1 experimentar uma nova técnica de salto para a àgua: “MIRO’S BOMBA”. Claro está que é uma técnica que se aconselha somente a putos reguilas, e que tal como nos anúncios de televisão não deve ser experimentado em casa.
A entrada para a caverna fica mesmo debaixo de nós. Após a descida até aos 25 metros, deparámos com uma enorme e larga entrada, que reflecte o Azul exterior de uma forma intensa, provocando uma bela visão quando já estamos no interior da gruta. Todavia, a luz exterior desaparece de forma abrupta e por completo, mal iniciamos o percurso por um longo túnel, que devido à sua extensão terá sido baptizado “ The Raillway Tunnel”, e que nos conduzirá à boca da gruta. Aí chegados, vamos subindo lentamente, sem avistar qualquer tipo de vida, apenas pedra. Escuridão Total. Absoluta Negridão. Quando chegamos ao topo da gruta, emergimos e ficamos cerca de 3 minutos a contemplar o tecto e as paredes, que apresentam uma espécie de pequenos desenhos esculpidos na pedra alaranjada. O calor é um pouco sufocante, e o ar rarefeito. Mas a sensação de ali estar é indescritível. Como se estivéssemos numa bolha de ar que nos protege da maldade do mundo exterior.
Iniciamos a descida e desligamos as lanternas, podendo assim constatar que apesar de não se ver a entrada, vê-se a luz que dimana dela. Prosseguindo a descida até à saída, passamos por baixo de um arco donde se avista já o azul intenso do exterior da gruta. A viagem descendente supera a ascendente. Palavras para quê? É difícil adjectivar correctamente a beleza. Neste caso mais uma bela obra da natureza divina.
O interior da Caverna e Túnel de acesso está coberto de coral mole e esponjas.
Depois de estarmos no exterior prosseguimos o mergulho ao longo de uma enorme parede vertical, onde vão aparecendo de vez em quando alguns cardumes de pequeníssimos peixes: castanhetas, carapaus, salmonetes. O percurso de volta, leva-nos a um outro local de mergulho que já fizemos, o Reqqa Point, onde repetimos a passagem pela pequena, mas belíssima gruta que permite a entrada de um mergulhador de cada vez, e cujo interior está coberto de pólipos amarelos e laranjas, e pequenos seres que mais parecem obras artesanais das legitimas bordadeiras da Lixa. Novamente magnifica a visão do azul intenso vislumbrado pela janela por onde se sai. Saída pacífica, embora fisicamente violenta. Nada que não estejamos já habituados com tanto treino aqui efectuado. As entradas e saídas já são encaradas de forma natural.
Após o habitual almoço de “tuna sandwich with fries” vamos para o local do nosso prometido segundo magnifico mergulho. Acontece que quando saímos da camioneta das obras, ficamos com a sensação que alguém nos quer mal, e anda a brincar connosco. A entrada para o mergulho está a mais de cem metros abaixo de nós, e é um desfiladeiro com uma paisagem magnifica, parecido com uma garganta funda, embora quem tivesse ficado sem garganta fossemos nós. A ideia de alombar com o escafandro montado às costas pela “escarpadaria” abaixo não era nada agradável, parecendo até uma desmesurada violência física. Talvez por acharem uma violência doméstica, criminalmente punível, as meninas mandaram o mergulho, e o Urs, às malvas. Sorte a minha, que fiquei com uma garrafinha biberão de 10 Litros, que pesa menos uns quilitos.
O mergulho vai ser na Cathedral Cave, que fica localizado na Costa Norte de Gozo, no deslumbrante e estreito desfiladeiro de Ghasri Valley, e tem uma profundidade máxima de 30 metros.
Para chegarmos à famosa Catedral, temos que atravessar o Vale.
Esta caverna está situada na extremidade de um desfiladeiro. É um vale dominado por dois enormes penhascos. Cenário fabuloso. Imagem de impressionante beleza. Como impressionante foi a lata do Urs em nos levar para ali ao fim de 9 mergulhos. É mais um mergulho efectuado de terra mas que, para variar, requer uma longa caminhada através de umas encolhidas escadas esculpidas na pedra. Após a penosa descida (com todo o equipamento às costas), deparamos com uma pequena enseada de cascalho, envolta pelo enorme vale escarpado na pedra, com mais de cem metros de altura. No fundo do desfiladeiro dominado pelos enormes penhascos um corredor de àgua em direcção ao mar. Apesar do cansaço, quando entramos na àgua, relaxamos e podemos admirar a grandiosidade do cenário que temos à nossa disposição. Só para nós. É difícil imaginar maior tranquilidade. A dificuldade de acesso tem as suas vantagens.
No fundo do corredor subaquático com uma extensão de cerca de 400 metros, entramos mar adentro, e seguimos com a enorme parede do nosso lado direito, a uma profundidade de cerca de 18 metros. Há uma anormal profusão de pequenas anémonas que provocam um belo espectáculo. Após 100 metros, encontramos uma enorme e imponente entrada para uma caverna que nos guia ao objectivo do mergulho: a Cathedral Cave. O seu interior é muito escuro, com enormes blocos de pedra amontoados, recobertos de esponjas, e coral mole. Nas pequenas saliências no interior da caverna é possível vislumbrar pequenos peixes e alguns nudibrânquios (discodoris atromaculata). No interior, e olhando para o alto, o tecto assemelha-se a uma enorme cúpula em forma de abóbada. A saída da caverna, quiçá fazendo jus ao nome do spot, permite-nos mais uma vez contemplar a intensa luz azul proveniente do exterior, oferecendo-nos um cenário de cortar a respiração. Quando nos afastamos e olhamos para trás, para a enorme porta de entrada da gruta, ficamos de facto com a sensação de estar a deixar algo grandioso. A entrada da gruta, com um aspecto gótico, assemelha-se de facto à silhueta de uma catedral. Como se fosse um monumento de culto, que cativa a nossa admiração e o nosso respeito.
O caminho de regresso é feito pausadamente, e ao entrarmos no corredor que nos há-de guiar à pequena praia onde entramos, não é possível ficar indiferente ao muito lixo que se deposita no fundo, e que decerto contribui decisivamente para o pouco peixe avistado. Sentimos a obrigação de contribuir com algo para a melhoria desse meio ambiente que adorámos e que nos entristece quando está despido dos seus habitantes naturais, e recolhemos dois baldes que poluem o fundo.
Este foi, sob o meu ponto de vista, um excelente mergulho que valeu pelo fabuloso cenário terrestre e subaquático com que a natureza nos brindou, bem como pela dificuldade de acesso, que tal como foi efectuado, o torna certamente num mergulho pouco acessível à maioria dos mergulhadores.
Mas, apesar de toda a beleza cénica, nem todos os Mates acharam que o mergulho tenha valido a descida e subida das 158 escadas. Houve quem dissesse mal da vida, e quem pensasse que outros mais dados ao stress no início da aventura fossem explodir de raiva e mandar o Urs pelos penhascos abaixo. Puro engano, o stress há muito havia passado, a habituação estava feita, e mais não restava do que desfrutar daquilo que tínhamos. E, efectivamente, desfrutei imenso neste mergulho, embora à custa do meu egoístico desfrute tenha deixado pendurado o Casimiro com a sua D70. Sorry Mate!
Infelizmente, este foi o nosso último mergulho em Gozo. E tanto havia ainda para conhecer …
Face à revolta de alguns Mates, que quase degenerava em motim, foi decidido abortar o terceiro mergulho previsto. Com muita pena minha, mas estou certo que também com pena dos meus Amigos. Ficou a sensação de terem faltado dois ou três mergulhos para a plenitude.
Após a decisão de não efectuar mais nenhum mergulho, regressamos ao centro de mergulho, arrumamos o equipamento, e voltamos ao hotel para o banho preparatório do jantar.
Por falar em jantar, convém esclarecer que em Malta se come muito bem. Comida bem confeccionada e apresentada, acompanhada por excelente vinho, pelo que, não foi pelo estômago que alguém saiu defraudado.
Hoje estou tão cansado, que vou dar descanso ao Xanax. Grande Urs …
O caminho de regresso é feito pausadamente, e ao entrarmos no corredor que nos há-de guiar à pequena praia onde entramos, não é possível ficar indiferente ao muito lixo que se deposita no fundo, e que decerto contribui decisivamente para o pouco peixe avistado. Sentimos a obrigação de contribuir com algo para a melhoria desse meio ambiente que adorámos e que nos entristece quando está despido dos seus habitantes naturais, e recolhemos dois baldes que poluem o fundo.
Este foi, sob o meu ponto de vista, um excelente mergulho que valeu pelo fabuloso cenário terrestre e subaquático com que a natureza nos brindou, bem como pela dificuldade de acesso, que tal como foi efectuado, o torna certamente num mergulho pouco acessível à maioria dos mergulhadores.
Mas, apesar de toda a beleza cénica, nem todos os Mates acharam que o mergulho tenha valido a descida e subida das 158 escadas. Houve quem dissesse mal da vida, e quem pensasse que outros mais dados ao stress no início da aventura fossem explodir de raiva e mandar o Urs pelos penhascos abaixo. Puro engano, o stress há muito havia passado, a habituação estava feita, e mais não restava do que desfrutar daquilo que tínhamos. E, efectivamente, desfrutei imenso neste mergulho, embora à custa do meu egoístico desfrute tenha deixado pendurado o Casimiro com a sua D70. Sorry Mate!
Infelizmente, este foi o nosso último mergulho em Gozo. E tanto havia ainda para conhecer …
Face à revolta de alguns Mates, que quase degenerava em motim, foi decidido abortar o terceiro mergulho previsto. Com muita pena minha, mas estou certo que também com pena dos meus Amigos. Ficou a sensação de terem faltado dois ou três mergulhos para a plenitude.
Após a decisão de não efectuar mais nenhum mergulho, regressamos ao centro de mergulho, arrumamos o equipamento, e voltamos ao hotel para o banho preparatório do jantar.
Por falar em jantar, convém esclarecer que em Malta se come muito bem. Comida bem confeccionada e apresentada, acompanhada por excelente vinho, pelo que, não foi pelo estômago que alguém saiu defraudado.
Hoje estou tão cansado, que vou dar descanso ao Xanax. Grande Urs …
E assim termina esta crónica dos mergulhos em Malta. A crónica completa da viagem, estará disponível para os participantes da mesma, incluindo toda a parte socio-cultural, e quiçã um dia faça parte das minhas memórias do Mundo Azul.
Entretanto, outros mergulhos virão, e outras "estórias" se sucederão.