29 de fevereiro de 2008

Ataque de Tubarão ou Ataque ao Tubarão

Recentemente a Comunicação Social noticiou a ocorrencia de mais um ataque de Tubarão, da qual resultou a morte de um mergulhador. Sem mais.
Assim de chofre, a noticia chamou-me a atenção, e porque os elementos eram escassos, imaginei logo um tubarão a aparecer no Azul, arreganhar os dentes, abrir a boca e abocanhar o mergulhador. É uma imagem aterradora, para quem está em processo de mentalização psicológica para ocasionais encontros.
Mais tarde, com a chegada de novos elementos da trágica ocorrência, foi possivel saber que tudo se passou num Shark Feeding, nas Bahamas, com Tubarões Tigre e Touros. Depois de visionar alguns videos no You Tube sobre a prática, fico admirado como é que em 25 anos só aconteceu um acidente com estas dimensões. Os mergulhadores devem ter algum santo protector...
Mergulhar deliberadamente no meio de tubarões, presumo que implica um estado de alma e de mente altamente preparado do ponto de vista psicológico. Para mim, os Tubarões são uns animais que me causam fascínio, mas porque são animais, são imprevisiveis. E quando estimulados da forma que o são num Shark Feeding, ainda mais imprevisiveis serão, a que acresce o facto de ao contrário do mergulhador, se encontrarem no seu meio ambiente. Julgo que nenhum mergulhador, com formação apurada, assumirá de ânimo leve, mergulhar num sitio que à partida sabe estar infestado de tubarões. Mais que isso, de Tubarões assumida e potencialmente perigosos, como serão os Tigre, Touro, Martelos, num ambiente de grande excitação. E, diga-se que a excitação será não só dos Tubarões na ânsia de serem os primeiros a chegar aos isco, mas dos próprios mergulhadores, que perante o espectáculo que lhes é dado a observar, e com a adrenalina a disparar de forma vertiginosa, olvidarão por certo algumas das regras de segurança, expondo-se mais do que o devido a riscos desnecessários. Daí que diga que antes de mais há que estar preparado fisica e psicológicamente, devidamente documentado e preparado para que algo de inesperado possa acontecer.
A propósito já repararam que quando um Urso ataca um caçador, ninguém faz o alarde que se faz quando existe um ataque de Tubarão. E quando um Elefante do Circo entra em stress e esmaga o tratador? E quando o Leão do Zoológico come a mão de um miúdo que indavertidamente meteu a mão na jaula para ver se apalpava o animal? Nada se passa, é apenas uma tragédia. Mas se no meio da tragédia está um tubarão, trata-se de um ATAQUE de um Comedor de Homens. Há qualquer coisa que desde logo está errada na semântica, porque só se poderia afalar de ataque se o Tubarão viesse ao Barco, ou a nossa casa atacar-nos, mas não. Somos nós, quem nos deslocamos de propósito ao seu meio ambiente, invadindo o seu espaço. Ora se assim é, temos que saber os riscos que corremos, e até que ponto estamos dispostos a assumi-los. Pode sempre ocorrer a possibilidade de um encontro menos amistoso, ou até a circunstância de algo não correr conforme o esperado. O paraquedista que salta de um avião a milhares de metros de altura, tem que levar em linha de conta a infima possibilidade de nenhum dos sistemas de segurança funcionar, e estatelar-se no chão. É a lei de Murphy. Por isso, é tudo uma questão de assunção de riscos e responsabilização pessoal. Para o bem e para o mal seremos sempre responsáveis por todas as decisões que tomámos. Os mergulhadores sabem os riscos que correm, e se não os conseguem assumir, então o melhor é dedicarem-se à pesca, de cana, porque seguramente não serão mergulhadores.
Praticamos um desporto que não sendo denominado Radical, envolve riscos. E, desportos extremos, como julgo que poderá ser considerado o mergulho num Shark Feeding, podem causar adrenalina extrema, mas igualmente consequências não menos extremas. E o culpado dessas consequências não é o Tubarão com toda a certeza.

Mas isto sou eu a pensar. Eu que tenho o sonho de mergulhar com um Tubarão Branco.
Convém esclarecer que o Sonho é para ser realizado quando tiver passado dos 65, e numa jaula de aço reforçado, com malha bem apertada (basta um espaçozinho para permitir a focagem através da minha compacta) . Claro está, que há sempre o risco de a jaula por um imprevisto qualquer se abrir ....
Para quem me aguentou até aqui, fica um link, que aconselho vivamente, porque, aí sim, fala quem sabe ...


http://aquaicbas.blogspot.com/2008/02/tubares-ataques-verdade-finalmente-nas.html

21 de fevereiro de 2008

DiveMates in Malta - Foto de Familia



E finalmente, a foto de familia dos DiveMates em Malta.

Kasimiro; Zé; Raul;Monachus;Urs, Moi (Je Mêmme).

20 de fevereiro de 2008

Malta - Os Ultimos Mergulhos











DAY SIX - 7 de Junho
Após uma noite mais ou menos bem dormida, coisa rara nesta estadia, e com ligeiro sabor a vingança ao olhar para o duro amanhecer e cara ensonada do meu Buddy Room, que quase me fulminou com o lhar, partimos para aquele que por circunstâncias dispares estava convencionado como o ultimo dia de mergulho em Malta. Todos pensávamos ir aos naufrágios, mas segundo o “Labios de Urso” (Lipstick) o vento não estava de feição, pelo que logo se combinou os mergulhos para a costa Norte, com a promessa que iriam ser dois excelentes mergulhos. Como mergulhar é o que todos gostamos de fazer, combinou-se desde logo um terceiro mergulho do dia, mas a efectuar por barco a um spot chamado Crocrodile Rock.
Após viagem de meia hora na nossa “camineta”, por caminhos mais ou menos sinuosos, chegamos ao local do primeiro mergulho, denominado Billingshurst Cave. Quando lá chegamos voltou a sensação de incredulidade face ao local de acesso ao mergulho, efectuado através de uma pedra escarpada, com inclinação descendente, e um salto de quatro metros para a àgua. Seria mais um mergulho próprio para exercícios dos fuzileiros. Depois de explicado o mergulho, montado o escafandro lá fomos nós para a àgua. E, mais uma vez, com a ajuda e boa disposição de todos lá se conseguiu entrar na àgua, de forma mais ou menos artística. E o acesso era tão fácil que deu para o nosso M1 experimentar uma nova técnica de salto para a àgua: “MIRO’S BOMBA”. Claro está que é uma técnica que se aconselha somente a putos reguilas, e que tal como nos anúncios de televisão não deve ser experimentado em casa.
A entrada para a caverna fica mesmo debaixo de nós. Após a descida até aos 25 metros, deparámos com uma enorme e larga entrada, que reflecte o Azul exterior de uma forma intensa, provocando uma bela visão quando já estamos no interior da gruta. Todavia, a luz exterior desaparece de forma abrupta e por completo, mal iniciamos o percurso por um longo túnel, que devido à sua extensão terá sido baptizado “ The Raillway Tunnel”, e que nos conduzirá à boca da gruta. Aí chegados, vamos subindo lentamente, sem avistar qualquer tipo de vida, apenas pedra. Escuridão Total. Absoluta Negridão. Quando chegamos ao topo da gruta, emergimos e ficamos cerca de 3 minutos a contemplar o tecto e as paredes, que apresentam uma espécie de pequenos desenhos esculpidos na pedra alaranjada. O calor é um pouco sufocante, e o ar rarefeito. Mas a sensação de ali estar é indescritível. Como se estivéssemos numa bolha de ar que nos protege da maldade do mundo exterior.
Iniciamos a descida e desligamos as lanternas, podendo assim constatar que apesar de não se ver a entrada, vê-se a luz que dimana dela. Prosseguindo a descida até à saída, passamos por baixo de um arco donde se avista já o azul intenso do exterior da gruta. A viagem descendente supera a ascendente. Palavras para quê? É difícil adjectivar correctamente a beleza. Neste caso mais uma bela obra da natureza divina.
O interior da Caverna e Túnel de acesso está coberto de coral mole e esponjas.
Depois de estarmos no exterior prosseguimos o mergulho ao longo de uma enorme parede vertical, onde vão aparecendo de vez em quando alguns cardumes de pequeníssimos peixes: castanhetas, carapaus, salmonetes. O percurso de volta, leva-nos a um outro local de mergulho que já fizemos, o Reqqa Point, onde repetimos a passagem pela pequena, mas belíssima gruta que permite a entrada de um mergulhador de cada vez, e cujo interior está coberto de pólipos amarelos e laranjas, e pequenos seres que mais parecem obras artesanais das legitimas bordadeiras da Lixa. Novamente magnifica a visão do azul intenso vislumbrado pela janela por onde se sai. Saída pacífica, embora fisicamente violenta. Nada que não estejamos já habituados com tanto treino aqui efectuado. As entradas e saídas já são encaradas de forma natural.
Após o habitual almoço de “tuna sandwich with fries” vamos para o local do nosso prometido segundo magnifico mergulho. Acontece que quando saímos da camioneta das obras, ficamos com a sensação que alguém nos quer mal, e anda a brincar connosco. A entrada para o mergulho está a mais de cem metros abaixo de nós, e é um desfiladeiro com uma paisagem magnifica, parecido com uma garganta funda, embora quem tivesse ficado sem garganta fossemos nós. A ideia de alombar com o escafandro montado às costas pela “escarpadaria” abaixo não era nada agradável, parecendo até uma desmesurada violência física. Talvez por acharem uma violência doméstica, criminalmente punível, as meninas mandaram o mergulho, e o Urs, às malvas. Sorte a minha, que fiquei com uma garrafinha biberão de 10 Litros, que pesa menos uns quilitos.
O mergulho vai ser na Cathedral Cave, que fica localizado na Costa Norte de Gozo, no deslumbrante e estreito desfiladeiro de Ghasri Valley, e tem uma profundidade máxima de 30 metros.
Para chegarmos à famosa Catedral, temos que atravessar o Vale.
Esta caverna está situada na extremidade de um desfiladeiro. É um vale dominado por dois enormes penhascos. Cenário fabuloso. Imagem de impressionante beleza. Como impressionante foi a lata do Urs em nos levar para ali ao fim de 9 mergulhos. É mais um mergulho efectuado de terra mas que, para variar, requer uma longa caminhada através de umas encolhidas escadas esculpidas na pedra. Após a penosa descida (com todo o equipamento às costas), deparamos com uma pequena enseada de cascalho, envolta pelo enorme vale escarpado na pedra, com mais de cem metros de altura. No fundo do desfiladeiro dominado pelos enormes penhascos um corredor de àgua em direcção ao mar. Apesar do cansaço, quando entramos na àgua, relaxamos e podemos admirar a grandiosidade do cenário que temos à nossa disposição. Só para nós. É difícil imaginar maior tranquilidade. A dificuldade de acesso tem as suas vantagens.
No fundo do corredor subaquático com uma extensão de cerca de 400 metros, entramos mar adentro, e seguimos com a enorme parede do nosso lado direito, a uma profundidade de cerca de 18 metros. Há uma anormal profusão de pequenas anémonas que provocam um belo espectáculo. Após 100 metros, encontramos uma enorme e imponente entrada para uma caverna que nos guia ao objectivo do mergulho: a Cathedral Cave. O seu interior é muito escuro, com enormes blocos de pedra amontoados, recobertos de esponjas, e coral mole. Nas pequenas saliências no interior da caverna é possível vislumbrar pequenos peixes e alguns nudibrânquios (discodoris atromaculata). No interior, e olhando para o alto, o tecto assemelha-se a uma enorme cúpula em forma de abóbada. A saída da caverna, quiçá fazendo jus ao nome do spot, permite-nos mais uma vez contemplar a intensa luz azul proveniente do exterior, oferecendo-nos um cenário de cortar a respiração. Quando nos afastamos e olhamos para trás, para a enorme porta de entrada da gruta, ficamos de facto com a sensação de estar a deixar algo grandioso. A entrada da gruta, com um aspecto gótico, assemelha-se de facto à silhueta de uma catedral. Como se fosse um monumento de culto, que cativa a nossa admiração e o nosso respeito.
O caminho de regresso é feito pausadamente, e ao entrarmos no corredor que nos há-de guiar à pequena praia onde entramos, não é possível ficar indiferente ao muito lixo que se deposita no fundo, e que decerto contribui decisivamente para o pouco peixe avistado. Sentimos a obrigação de contribuir com algo para a melhoria desse meio ambiente que adorámos e que nos entristece quando está despido dos seus habitantes naturais, e recolhemos dois baldes que poluem o fundo.
Este foi, sob o meu ponto de vista, um excelente mergulho que valeu pelo fabuloso cenário terrestre e subaquático com que a natureza nos brindou, bem como pela dificuldade de acesso, que tal como foi efectuado, o torna certamente num mergulho pouco acessível à maioria dos mergulhadores.
Mas, apesar de toda a beleza cénica, nem todos os Mates acharam que o mergulho tenha valido a descida e subida das 158 escadas. Houve quem dissesse mal da vida, e quem pensasse que outros mais dados ao stress no início da aventura fossem explodir de raiva e mandar o Urs pelos penhascos abaixo. Puro engano, o stress há muito havia passado, a habituação estava feita, e mais não restava do que desfrutar daquilo que tínhamos. E, efectivamente, desfrutei imenso neste mergulho, embora à custa do meu egoístico desfrute tenha deixado pendurado o Casimiro com a sua D70. Sorry Mate!
Infelizmente, este foi o nosso último mergulho em Gozo. E tanto havia ainda para conhecer …
Face à revolta de alguns Mates, que quase degenerava em motim, foi decidido abortar o terceiro mergulho previsto. Com muita pena minha, mas estou certo que também com pena dos meus Amigos. Ficou a sensação de terem faltado dois ou três mergulhos para a plenitude.
Após a decisão de não efectuar mais nenhum mergulho, regressamos ao centro de mergulho, arrumamos o equipamento, e voltamos ao hotel para o banho preparatório do jantar.
Por falar em jantar, convém esclarecer que em Malta se come muito bem. Comida bem confeccionada e apresentada, acompanhada por excelente vinho, pelo que, não foi pelo estômago que alguém saiu defraudado.
Hoje estou tão cansado, que vou dar descanso ao Xanax. Grande Urs …

E assim termina esta crónica dos mergulhos em Malta. A crónica completa da viagem, estará disponível para os participantes da mesma, incluindo toda a parte socio-cultural, e quiçã um dia faça parte das minhas memórias do Mundo Azul.

Entretanto, outros mergulhos virão, e outras "estórias" se sucederão.

19 de fevereiro de 2008

O gozo do Mergulho Radical em Gozo

Quase sem querer, ao navegar na Net, esbarrei com um video que me chamou a atenção. Então não é que o local me era familiar. Trata-se nem mais, nem menos do que o REQQA POINT REEF, que tanta azia me provocou ao ver o ponto de entrada e saida da àgua. Vai daí cliquei para ver o video.


Em cheio, isto é o mergulho em Gozo.

Entradas escarpadas, e saídas mais ou menos violentas se o mar não estiver para facilitar. A cena parece estúpida, mas só quem lá mergulhou é que sabe realmente a sorte que teve se apanhou mar de feição.

Felizmente, quando mergulhei em Gozo, não aconteceu nada disto, mas podia ter acontecido. Houve alturas em que na saída apanhamos com alguma rebentação.

Lembro-me bem deste spot, e da minha imediata reacção de recusa em entrar na àgua. Acabei por entrar, quase forçado pelos meus Divemates, e no fim acabou por ser um belo mergulho. Convém referir que quando lá fomos, as escadas estavam plantadas no fundo, a 12 metros de profundidade. E, por isso, a saída fez-se à custa da força bruta, com a ajuda dos que sairam primeiro, e da ondulação que dava um empurrãozinho.



Escapámos de boa ... Ora dêem lá uma espreitadela, e não gozem com o pobre merguhador ...


http://www.youtube.com/watch?v=lhSFtj3cPl0

14 de fevereiro de 2008

Porque Hoje é Dia dos Namorados ...

(EX)CITAÇÃO DO DIA

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" Fernando Pessoa

13 de fevereiro de 2008

Rozi Wreck e Comino Caves - MALTA





Para hoje, e com os agradecimentos sinceros do nosso bem estar físico, estava prevista uma expedição de barco, com dois mergulhos: um em Malta e outro em Comino.
Após o pequeno-almoço, reunião no centro de mergulho para garantirmos a ida ao Rozi Wreck, pois que parecia haver alguma má vontade para nos levar a esse local. Acertados os locais de mergulho – Rozi Wreck e Comino Caves - preparamos o equipamento de mergulho, e somos transportados até ao Cais de Gozo, onde nos esperava o Capitão Tony - uma espécie de capitão Iglo, mas de aspecto muito sebáceo -, com o seu barco Neptune. Após algumas dúvidas, foi bom saber que o nosso destino era mesmo o Rozi Wreck.
Nesta ocasião ficou mais uma vez presente a forma de ser de Portugueses e Alemães. Enquanto nós quase pedimos por favor para ir ao Rozi, existindo muita retracção em tomar uma posição de força, um grupo de alemães, que supostamente iria connosco mergulhar, chegou, e de nariz empinado informou logo que se recusava a embarcar, por entenderem que era muita gente no mesmo barco, não existindo conforto e condições de segurança para tanta gente. Recusaram-se a embarcar. Mais tarde, para nosso espanto, vemos os referidos alemães numa outra embarcação. Toma e embrulha, que é para aprender. Claro que os alemães acabaram por nos fazer um grande favor, pois ficamos com o barco só para nós, e lá conseguimos ir aos locais que desejávamos.
Quanto ao mergulho, o Tugboat Rozi, é um naufrágio que se localiza na ilha de Malta, mais precisamente em Cirkewwa Point, encontrando-se a uma profundidade de 36m.
O Rozi, como é carinhosamente conhecido, foi afundado em 1992 como atracção subaquática para turistas de barcos “fundo de vidro“, depois de 20 anos ao serviço como rebocador. Tem 40 metros de cumprimento. Encontra-se a cerca de 150 metros de distância da costa, e a menor distância de um recife. No local de desembarque existia alguma corrente de superfície, pelo que após o salto para àgua, nadamos rapidamente para uma zona abrigada, onde após reunião do grupo descemos. Ao fim de ¾ metros, avistamos o Rozi ao fundo.
O Rozi descansa intacto num fundo de areia, com a popa protegida pelo recife, como se se tratasse de um anfiteatro onde ele se encontra exposto. Parece que foi ali cuidadosamente colocado, e o seu aspecto é o de um barco que foi limpo para ali assentar. A vida que o rodeia é escassa, o que contribui para o aspecto de um navio fantasma.
Chegados ao nosso objectivo, começamos a explorar o fundo do navio, subindo ligeiramente para penetrarmos o seu interior, o que é facilitado pelo facto de lhe terem sido retiradas todas as portas e janelas. Entro no WC, onde a sanita está perfeitamente intacta, mas não me atrevo a sentar, quer porque não sinto necessidades fisiológicas, quer porque o Urs avisou que no seu interior costuma residir uma moreia, pelo que pelo sim, pelo não era melhor não nos sentarmos, recomendação que segui à risca, não fosse a moreia sentir-se atraída, e excitar-se. No convés, explorámos a casa das máquinas, e a ponte de comando, penetrando no seu interior, e alinhando à entrada para uma fotografia à “El Comandante”. Sempre a subir, por causa do famigerado “No Dec Time”, e porque o tempo voa quando se faz algo que se gosta, paramos no mastro do Rozi, lançando-lhe um último olhar e admiro os pequenos peixes que por aí pululam, visionando toda a estrutura do barco.
Dada a profundidade a que se encontra o navio, que nos limita consideravelmente o tempo de visita, e porque todos temos ar mais que suficiente, deixamos o Rozi e partimos em direcção ao recife que se encontra nas imediações, e que dá pelo nome de Marfa Point (The Madonna), onde existirá uma estátua da Madonna (Nossa Senhora) numa pequena cavidade, a cerca de 18 metros de profundidade. Infelizmente, por desconhecimento e falha de planeamento, não demos com a gruta que devia estar ali mesmo à nossa frente. Efeitos do Azoto …
As paredes do recife que explorámos, assim como as cavidades e túneis que permitem a entrada de mergulhadores, estão cheias de coral de diversas cores, e muita vegetação subaquática. Entramos numa dessas pequenas cavidades, e depois de sairmos andamos ali à volta da parede, contornando-a. Estivemos a poucos metros da famosa “Madonna”, mas isso seria algo que só mais tarde viríamos a descobrir, quando compramos o livro de mergulho, e constatamos o trajecto efectuado. Foi pena. Apesar disso, foi um belíssimo mergulho, e o Rozi só por si valeu a deslocação.
De regresso ao barco, e depois de desequipados, seguimos em direcção a COMINO, a ilha mais pequena do arquipélago Maltês, praticamente inabitada, passando pela famosa Lagoa Azul, onde impera a côr Azul turquesa da àgua.
Seguimos para uma pequena baía, de características semelhantes à Lagoa Azul, mas menos concorrida por barcos de turismo, para fazermos o intervalo de superfície, tomar um banho no mediterrâneo, e almoçarmos a salada de atum que o capitão Tony nos havia preparado. Como a fome apertava, todos fizemos uso da sabedoria popular portuguesa que diz que “o que não mata engorda”, ignorando deliberadamente se o Capitão tinha lavado ou não as mãos para fazer a salada. Talvez por isso tenha sabido tão bem, a ponto de haver quem quisesse repetir.
Depois do almoço, e tempo para uma breve sesta no deck do barco, zarpamos em direcção ao nosso próximo destino de mergulho, as Santa Marija Cave ou COMINO CAVES, como também são conhecidas.
O local de mergulho situa-se numa espectacular paisagem rochosa. É mais um sítio de beleza invulgar, no meio do Mediterrâneo, com uma àgua translúcida de nos fazer sentir que faz sentido a nossa paixão pelo mar. O azul deste mar vai ser uma recordação eterna, de deixar aflorar a típica saudade portuguesa, sempre que o recordarmos.
No local de mergulho, existem muitas formações rochosas com grutas à vista, e até um canal por onde passa um enorme barco cheio de turistas. O local onde decorre o mergulho - Ghemieri - é resguardado, e pela primeira vez, é possível avistar desde logo muito peixe, o que é uma surpresa. O Urs passa-me para a mão três ou quatro pedaços de pão de forma, que eu depois de afundar vou dando às centenas de peixes que se aproximam. Num àpice, estou literalmente rodeado de centenas de sargos e outros pequenos peixes, que se alimentam do pão que vou esmagando e largando em pequenas quantidades. Um autêntico festim para os intervenientes, eu, os peixes e os fotógrafos, se bem que eu me tenha sentido o mais privilegiado de todos por ser a atenção daquela miríade de peixes. É certo que com o expediente do pão, mas ainda assim uma imagem espectacular que vou guardar no meu disco duro da memória, entre as muitas e inesquecíveis que o mergulho já me proporcionou.
Quando estamos todos no fundo, seguimos para a exploração das cavernas, sendo desde logo possível vislumbrar as quatro enormes grutas ao longo da pedra.
Primeiro passamos por um arco, e depois entra-se numa caverna com uma grande entrada, que se prolonga por um caminho de mais de cinquenta metros, até uma abertura que tem uma ligação com outra caverna. Na junção das duas cavernas, há uma abertura no alto, a céu aberto, que permite a entrada de luz e dá um efeito espectacular. O mergulho decorre de gruta em gruta, e sempre que saímos duma, lá temos o magnífico e brilhante Azul Mediterrânico à nossa espera. É um Azul inexplicável.
Pela formação geológica da pedra, nalguns locais a luz é refreada pela sombra provocada pela própria pedra, havendo como que um efeito de refracção entre a àgua e a pedra. Os tectos das grutas estão cobertos de corais moles e esponjas. A profundidade máxima é de 22 metros, mas quase todo o mergulho decorre na quota dos 10/15 metros.
Este é sem dúvida um mergulho muito bom, que vale a pena fazer. De grande beleza paisagística, e daqueles mergulhos em que se desfruta plenamente de principio ao fim. É um mergulho de puro prazer, como deve ser o mergulho recreativo.
Findo o mergulho, regressamos a Gozo, e ao Hotel. A rotina é a de sempre, banho, ligeiro descanso e jantar num restaurante mesmo em frente à gruta da Baía de Xlendi. O jantar foi bom, desta vez acompanhado por uma revelação de nome Dolcino. E de tão bom que era, abateram-se três unidades de 0,75 dl. Mais ou menos animados, e um pouco menos cansados que nos dias anteriores, lá seguimos direitinhos para os quartos, para descansar, pois que amanhã regressavam os trabalhos forçados dos “Shore Dives”.

12 de fevereiro de 2008

Voltei ... Com mais de Malta - Sequência - Day 3





Após um duro amanhecer, causado por uma noite em claro, um banho de àgua fria para acordar, e o habitual pequeno almoço rasca do St Patrick´s, tomamos o curto caminho do Centro de Mergulho, onde nos espera uma boa noticia: íamos ver os Naufrágios de Gozo.
Tudo animado com a boa nova, lá partimos em direcção a XATT L - AHMAR, local onde foram propositadamente afundados três navios para a indústria do mergulho. Ao contrário dos locais anteriores, este apresenta algumas condições para equiparmos, dispondo de parque de estacionamento e algumas mesas. O acesso é que continua não ser facilitado, embora também aqui a dificuldade me pareça muito menor. O primeiro mergulho irá ser no MV KARWELA, um navio de passageiros que passeava turistas em Comino até 2002, com 51 metros de cumprimento e 8,50 metros de largura. Foi deliberadamente afundado em Agosto de 2006, para servir como recife artificial. Repousa no fundo de areia, a 39 metros de profundidade, e a cerca de 50 metros da costa.
O que se pode desde logo dizer deste spot, é que se trata de um GRANDE MERGULHO e FABULOSO mergulho. Logo que caímos à agua, e começamos a afundar, dirigindo-nos em direcção ao naufrágio, detecta-se a silhueta do navio, tal a visibilidade das àguas. E o que chama desde logo a atenção, acaba por não ser o navio, mas a cor dos grafittis de um inesperado VW Carocha estacionado no deck do naufrágio. É uma surpresa visual que marca desde logo a excelência deste mergulho. Tudo isto quando ainda estamos a meio caminho. Descemos até à enorme hélice, a 42 metros de profundidade, damos uma espreitadela rápida ao cumprimento do navio e à sua imponente imagem pousado no fundo. Subimos lentamente até ao convés, passamos pelo carocha, entramos na sala das máquinas, passamos para o interior das cabines de passageiros, onde tiramos umas fotos à janela, e subimos barbatana ante barbatana as escadas interiores de acesso ao deck superior. Depois, gerindo o tempo passeamos por cima do Karwela, mirando sempre a original imagem do carocha. Como diria o meu dive buddy “ESPÉCTAAAAAAAAAAAAAAAAACULO”.
Como ainda resta muito ar, vamos subindo muito lentamente, e explorando o recife, que alberga alguma vida. Definitivamente este foi um belíssimo mergulho.
Quando já todos babávamos por um segundo mergulho no local, para repetir o Karwela, ou para visitar outro naufrágio, eis que o Urs, defensivamente, nos informa que vamos para outro local.
Sem percebermos muito bem o porquê de irmos para outro local, lá nos desequipámos e fomos descansar para uma belíssima baía de àguas lúcidas e transparentes ,muito bem frequentada. Houve até quem tivesse oportunidade de mitigar as saudades dos animais de estimação, ao ver um cachorrinho que por ali deambulava muito bem acompanhado.
Depois da nossa refeição “fast and light food”, seguimos em direcção à Costa Sul de Gozo, mais precisamente para Mgarr Ix - Xini, com destino final aos TA´CENC CLIFFS.
A chegada ao local não augura nada de bom. Estacionamos no cimo de um promontório, quase metendo medo só de olhar para baixo. Recordo que o nosso “Drive Master”, naquele seu ar de puto reguila inocente, perguntar ao Urs, meio a brincar, meio a sério, se lhe tínhamos feito algum mal. Acho que o Helvético não percebeu a chalaça. Ou então fez-se de desentendido e gozou connosco à brava.
Porque ninguém conseguia sequer vislumbrar onde era a entrada para o mergulho, decidiu-se ir fazer o reconhecimento do caminho de acesso. E o reconhecimento, sem equipamento, foi duro. Nada mais, nada menos que uma descida de uma ligeira rampa, e uma descida a pique de 103 escadas. O pensamento geral foi que se o Guia nos levava para ali, com toda aquela dificuldade de acesso, é porque o mergulho seria fabuloso. O cenário exterior ajudava a formar tal ideia, pois era de impressionante beleza paisagística. Um pouco incrédulos pela violência física do acesso, mas crentes no fabuloso azul transparente do mar, lá subimos as 103 escadas e rampa, para nos equiparmos. Colete, lastro, garrafa e demais equipamento às costas e nos braços, lá iniciamos a via sacra até ao fundo do penhasco.. Quando chegámos ao local de entrada na água, nem sabíamos de que terra éramos. Mas enfim, vamos ao mergulho.
O mergulho desenrola-se ao longo de uma parede vertical, com algumas plataformas submarinas que permitem o acesso ao mergulhador, um de cada vez, com a nuance de em algumas dessa cavidades a navegação se fazer muito perto do tecto, pelo que a flutuabilidade é um pouco complicada. A profundidade do mergulho vai de quotas dos 35 aos 2 metros, sendo que nos mantemos entre os 23 e a superfície. A vida marinha continua escassa. A única coisa que se avista é uma quantidade anormal de algas, vermes de fogo com problemas de obesidade, uma lagosta, e uns ocasionais peixe papagaio. Na parte final do mergulho, que coincide com a entrada na parte abrigada do desfiladeiro, a navegação faz-se quase à superficie, visitando umas cavidades muito estreitas, num sobe e desce que nos dá cabo da flutuabilidade. Vale-nos o facto de haver muitos calhaus à mão de semear, que nos permite equilibrar e terminar o mergulho de forma satisfatória.
Nada satisfatória é a perspectiva bem real de ter que subir as 103 escadas de regresso à camioneta. Um sacrifício desnecessário que não compensa o mergulho efectuado. Não sei se as condições climatéricas e de visibilidade seriam as melhores, mas este foi sem sombra de qualquer dúvida o mergulho menos conseguido em Malta. Uma violência desnecessária, que nem a magnificência dos Cliffs de Gozo justifica. A decepção, desilusão e revolta é ainda maior pelo facto de todos termos preferido mergulhar num dos naufrágios, não compreendendo o motivo para tal recusa e escolha deste spot.
Visivelmente agastados, e cansados, mas nunca mal dispostos, regressamos ao Hotel, efectuando uma ligeira paragem num outro promontório para apreciar os impressionantes Penhascos de Gozo.
A azia do grupo era tal, que fizemos um ultimato ao Urs, ou nos levava no dia seguinte ao Rozi Wreck, ou então nada feito, não íamos mergulhar de barco. Para relaxar de tanto cansaço, nada melhor que uma deslocação à capital de Gozo, Victória. A brilhante ideia das senhoras, era passearmos por Victória, visitar os seus belos monumentos, designadamente a imponente catedral e a Citadela, e arranjar um bom restaurante para jantar. Ora se o primeiro objectivo foi plenamente conseguido, porque visitamos ambos os locais, o segundo e principal objectivo superou todas as expectativas, defraudando-as. Com efeito, após descermos da Citadela, iniciamos uma incessante busca por um bom restaurante. Está bem um restaurante. Ok, uma casa de pasto. Pronto, pronto, uma tasca também serve. Não se fala mais nisso, uma taverna também serve. As horas passavam, e infelizmente nada. Decidimos então o óbvio, regressar a Xlendi, que lá pelo menos há uma série de restaurantes, e afinal até se come bem. Problema seguinte, arranjar um táxi. Procura e mais procura e nada. A coisa não está a correr nada bem. Há uns artistas que se lembram de uma ideia brilhante, regressar a pé a Xlendi, são só cerca de dez Km. Foi então que se fez luz, ao olhar para um cartaz publicitário salvador, que continha duas letrinhas mágicas: Mac Donalds. Estava achado o nosso restaurante de primeira.
Saciada a fome, regresso a Xlendi. Entretanto são horas do “Vitinho” atacar.
A boa noticia do dia é que descobri a fórmula para adormecer rápido:
FDR = Subir/descer 103 escadas x 4 + 2 mergulhos + 1 cerveja + 1 Xanax = 7 horas de sono